Para se ter consideração pelos outros, é preciso gostar de nós mesmos. Mas alguém nos ensina isso, a ter amor por nós mesmos? A criança aprende a amar através dos pais. O princípio do amor da criança é: “Eu amo porque sou amada, eu preciso desse amor e por isso eu também amo.”. O amor infantil é dependente. Por sua vez, o amor adolescente é narcisista e idealizado, “Eu amo você e você se torna perfeito por isso.”. Cada fraqueza tem uma retaliação através do amor diminuído ou do ódio. Tudo tem que ser perfeito, precisa-se da perfeição para amar.
Já o amor maduro diz: “Eu sou amado porque amo. Eu preciso de você porque te amo.” Esse amor maduro é menos idealizado e narcisista. É possível amar apesar das fraquezas e defeitos. É um amor voluntário e gratuito. A gente escolhe não só o amor, mas a dependência dele. E é uma dependência voluntária. Dar amor é uma necessidade existente dentro de nós, é uma motivação para a unidade. No ódio, estamos sozinhos, mas nele nos encontramos em nossa individualidade e crescer é aprender a amar o outro mesmo sabendo da existência do ódio dentro de si mesmo e do outro.
Para nosso crescimento, precisamos deixar muita coisa para trás, uma delas é a ausência do ódio. Pois o amor e o ódio estão interligados e permitir-se odiar é permitir-se amar. Lutar contra isso é um desperdício de energia. E somente quando completamos o difícil processo de integração de amor e ódio, do nosso bem e mal interior, quando aprendemos nos afastar do nosso ideal de perfeição e aceitar a nós mesmos junto com a agressividade que carregamos, podemos então nos tornar responsáveis.
E assim nos tornamos adultos responsáveis. E durante toda nossa vida, temos que abrir mão de tanta coisa, coisas que muitas vezes nos dói (e a dor as vezes chega a ser física mesmo), as vezes nos parecem impossíveis e apesar de não acreditarmos, certamente sobreviveremos. A primeira grande perda que todos tivemos que um dia suportar foi logo ao nascimento. E ao nascer, perdemos nossa maior e primeira união, a união mãe-filho. E todas as nossas experiências de perdas relacionam-se com essa perda original. E por toda nossa vida, buscamos uma união parecida, que possa nos satisfazer. Seja por meio de um momento de êxtase sexual, por meio da arte, por meio da religião, da natureza, da meditação e por meio das drogas.
É engraçado, mas na vida estamos em constante busa da uma conexão. E esse desejo eterno de união, dizem alguns psicanalistas, dá origem ao nosso desejo de volta - de volta, senão ao útero, pelo menos ao seu estado de união ilusória, chamada simbiose, um estado "pelo qual, bem no fundo do inconsciente original e primitivo... todo ser humano anseia".
Vivendo cada dia de cada vez, aprendendo a entender, e se não for possível, ao menos suportar cada perda necessária para pelo menos continuar vivendo enquanto é necessário.