E então, conseguiu pensar sobre o que você faria e o que você não faria se tivesse esse anel mágico no qual sempre que você quisesse, o tornasse invisível? Pois bem, antes vamos esclarecer o que é a moral. É o conjunto do que um indivíduo se impõe ou proíbe a si mesmo, não para, antes de mais nada, aumentar sua felicidade ou seu bem-estar próprios, o que não passaria de egoísmo, mas para levar em conta os interesses ou os direitos do outro. A moral responde à pergunta: “O que devo fazer?” É o conjunto dos meus deveres – mesmo que, às vezes, como todo o mundo, eu os viole. É a lei que imponho a mim mesmo, ou ao menos que deveria me impor, independentemente do olhar do outro e de qualquer sanção ou recompensa esperadas.
O que devo fazer? e não O que os outros devem fazer? É o que distingue a moral do moralismo. A moral só é legítima na primeira pessoa. Dizer a alguém: “você tem de ser corajoso” não é dar prova de coragem. A moral só vale para si mesmo.
Tendo esse anel, você continuaria por exemplo a respeitar a propriedade e intimidade do outro, seus segredos, sua liberdade? Seria capaz de resistir, diferente de Giges, que na primeira oportunidade tratou de conquistar o poder? Aquela roupa na vitrine que você tanto quer, poderia simplesmente roubar, ninguem saberia, ninguem ira ver. Seria capaz de resistir à tantas tentações possíveis que esse anel o submeteria?
Em contraposição, o que, mesmo sendo invisível, você continuaria a se impor ou a se proibri, não por interesse, mas por dever, só isso é estritamente moral. O que você exige de você mesmo, não em função do olhar alheio ou de determinada ameaça exterior, mas em nome de certa concepção do bem e do mal, do dever e do proibido, do admissível e do inadmissível. Concretamente: o conjunto das regras a que você se submeteria, mesmo que fosse invisível e invencível.
A resposta de tudo isso cabe somente a você decidir, depende única e exclusivamente de você. E eu nem quero saber a resposta, pois como no texto citado no post anterior, "se alguém recebesse a permissão de que falei e jamais quisesse cometer a injustiça nem tocar no bem de outrem, pareceria (...) o mais insensato àqueles que soubessem da sua conduta; em presença uns dos outros, elogiá-la-iam, mas para se enganarem mutuamente e por causa do medo de se tomarem vítimas da injustiça.".
Porque agir moralmente é levar em conta os interesses do outro sem esperar nenhuma recompensa ou castigo possível, sem necessitar de nenhum outro olhar além do seu mesmo. Você vale única e exclusivamente pelo bem que faz, pelo mal que se proíbe fazer, sem nenhum outro benefício além da satisfação de fazer o bem – mesmo que ninguém jamais venha a saber do seu feito.
0 comentários:
Postar um comentário